Blog do Sôr André

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quinta-feira, 22 de setembro de 2011


Minha infância...

Duvido quem não sinta saudade de sua infância, de sua forma pura e diferente de ver o mundo e as pessoas. A infância parece-nos ser sempre a melhor fase de nossa vida, afinal não podemos compará-la a nenhuma outra fase: é a primeira.

Muitas vezes pensamos que o mundo em que vivíamos quando crianças era radicalmente diferente do mundo em que vivemos hoje. Com certeza era diferente, mas nem tanto. Nós sim éramos radicalmente diferentes. Diferentes na forma de pensar, de falar, de acreditar, de imaginar, enfim, de viver.

Os adultos, a escola, os amigos, os brinquedos, os professores, nossa cidade, tudo parecia diferente. Tudo geralmente parecia melhor. É comum escutarmos frases como: no meu tempo era mais divertido, era mais gostoso, tinha mais graça...

Mas o que mudou não foi tanto o mundo exterior. A verdadeira mudança processou-se interiormente: nós mudamos. Nós perdemos a pureza, a ingenuidade, o sentimentalismo que tínhamos antes.

Concordo que hoje há uma erotização precoce de nossas crianças, assim como excessos de cursinhos e atividades (inglês, natação, dança, informática), que tiram da criança um tempo que lhe é sagrado para brincar. Mas as crianças de hoje ainda são crianças. E assim como nós quando éramos crianças, elas precisam ser vistas e tratadas como crianças.

Gosto muito de crianças, mas minha experiência com educação de crianças não foi muito positiva para mim. Identifico-me mais com jovens e adolescentes. É uma questão pessoal, não discuto que tipo de idade seja melhor para trabalhar. Mas admiro demais professoras (digo professoras porque as mulheres são maioria esmagadora na educação infantil) que educam crianças. É um dom. Exige paciência, muita dedicação e compreensão, grandes doses de carinho e afetividade.

Experiências na infância são muito mais marcantes que em qualquer outra fase da vida. Educar crianças é uma grande responsabilidade, tanto dos pais quanto dos educadores. A educação recebida nos primeiros anos de vida é decisiva na formação do caráter e da personalidade de uma pessoa.

Nem sempre as crianças receberam a merecida atenção que recebem hoje. Na grande maioria das sociedades e culturas antigas eram vistas como simples seres em formação. As gravuras da Idade Média mostram as crianças como adultos em miniatura, que diferem apenas no tamanho.

Na cultura judaica eram discriminadas e desvalorizadas. Jesus rompe paradigmas ao pedir que os apóstolos permitam que as crianças aproximem-se dele. E vai mais longe: afirma que quem não tiver coração de criança não entrará no Reino dos Céus.

Ser criança não significa ser infantil ou irresponsável. Nem mesmo ser ingênuo. Mas são muitas as lições que podemos aprender com as crianças. Elas costumam ser sinceras no que dizem e na demonstração de seus sentimentos. São carinhosas e afetuosas com todas as pessoas. Não carregam preconceitos. Acreditam no que as pessoas dizem, pois assim como não tem más intenções também não conseguem enxergar más intenções nas pessoas com quem se relacionam.

Uma casa com crianças é mais viva, mais alegre, mais agitada. Incomodam quando estão em casa, mas fazem muita falta quando não estão. São a alegria das famílias.

Não gosto de pessoas que não gostam de crianças. Talvez por não terem tido uma infância feliz, não aceitam que as crianças de hoje possam ter. Não gostar de crianças talvez seja não gostar da pureza e sinceridade que elas representam.

E se existem crianças que podem ser classificadas como más, vejo como únicos culpados aqueles que não as ensinaram a serem boas: seus pais.

André Rech ( F. 81714119 )

Professor de Filosofia e Sociologia