Blog do Sôr André

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terça-feira, 18 de maio de 2010

Disney


Disney

Sou gibiófilo...
Sei que a palavra não existe, mas se existisse significaria “amante de gibis”, do grego “filos” = amizade, atração.
Desde que aprendi a ler, aprendi a gostar de revistas em quadrinhos, principalmente as da Disney.
Aliás, aprendi a gostar de ler lendo gibis.
Personagens como Tio Patinhas, Donald, Gastão, Margarida, Peninha, Pateta, sempre povoaram meu imaginário infantil.
Eu era uma criança irrequieta, agitada. Mas bastava colocar uma pilha de gibis em minha frente para que eu me aquietasse e ficasse em silêncio. Comprava gibis, pedia emprestado, trocava... Tinha uma verdadeira gula por eles. Uma atração inexplicável.
Mas se aprendi a gostar de ler, também aprendi muitas outras coisas com os gibis que só fui me dar conta mais tarde.
Aprendi que para ficar rico basta simplesmente poupar, como o Tio Patinhas. Poupar mesmo, radicalmente. Não gastar em absolutamente nada que seja supérfluo. Quem não é rico é porque não sabe poupar. Sentia-me culpado por não saber poupar, e encontrava aí a justificativa para não ser rico. Mas hoje percebo que quem poupa é porque é obrigado, é porque se não poupar não consegue pagar todas as contas. E todos os poupadores que conheço são pobres...
Aprendi que crianças são criadas por tios ou tias, nunca pelos pais. Donald cria os sobrinhos Huguinho, Zezinho e Luizinho. Mickey cria os sobrinhos Chiquinho e Francisquinho. Margarida cria as sobrinhas Lalá, Lelé e Lili. Zé Carioca tem os sobrinhos Zico e Zeca. Peninha cria o Biquinho. Pateta, o Gilberto. Até os Metralhas têm sobrinhos. Mais tarde descobri que Walt Disney era homossexual, não tinha família e era contra a instituição família. Então nunca a retratava em suas histórias. Ninguém casa, ninguém tem filhos.
Aprendi que ladrões roubam porque são maus. Os Metralhas, Mancha Negra, Professor Gavião... Todos eles roubam simplesmente porque é da natureza deles roubar. São bandidos porque gostam de ser. Mas hoje sei que o que faltou a bandidos foi justamente uma família estabilizada, educação em casa e na escola, condições para uma vida digna. E faltou justamente devido à concentração de renda nas mãos de pessoas como o Tio Patinhas...
Aprendi que crianças não têm religião, não rezam, não vão a nenhuma Igreja, não fazem catequese. Parece que o nome de Deus é proibido nos gibis da Disney. Mas hoje sei que crianças são muito religiosas e possuem uma fé mais pura e, às vezes, até maior que a dos adultos. E sei que a educação religiosa das crianças é de fundamental importância na formação de seu caráter e na construção do sentido da vida.
Hoje sei que nem revistas infantis estão livres de fortes ideologias, principalmente a capitalista. E acredito que, já que fazem parte do cotidiano de tantas crianças, estas revistas deveriam ser trabalhas em sala de aula de forma crítica e construtiva, a partir de questionamentos e comparações.
Não parei de ler gibis. Continuo lendo, é um excelente passatempo para mim quando o tempo permite. Mas aprendi que preciso desaprender muitas coisas que os gibis me ensinaram.

André Rech
Professor de Filosofia e Sociologia em Arroio do Sal e Passo de Torres/SC