Blog do Sôr André

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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

E agora José Fogaça?


E agora, José?


A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José ?
e agora, você ?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José ?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José ?

E agora, José ?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora ?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora ?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José !

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José !
José, pra onde ?
Carlos Drummond de Andrade




E agora, José (Fogaça)?

A mamata acabou,
A prefeitura lhe escapou,
Para o povo mentiu,
A eleição esfriou,
E agora, José (Fogaça)?
E agora, você?
Você que nele votou,
Que prefeito o elegeu,
Você que acreditou,
E que foi enganado,
E agora, José (Fogaça)?

Está sem mandato,
Está sem discurso,
Está sem candidato,
Já não pode governar,
Já não tem a quem mandar,
Governar já não pode,
E a eleição esfriou,
A pesquisa já veio,
Traz Tarso na frente
Yeda no encalço,
Você não deslanchou
Acho que já acabou
A eleição lhe fugiu
Seu plano gorou
E agora José (Fogaça)?

E agora José (Fogaça)?
Suas palavras indecisas
Seu olhar indeciso
Sua falta de tudo,
Sua paciência,
Seu olhar perdido
Sua imparcialidade
Sua incoerência
Seu marasmo – e agora?

Com uma grande aliança
Quer entar no Piratini,
Mas a aliança se despedaça;
Quer voltar a prefeitura,
Já não pode voltar,
Quer voltar ao senado,
Senador não é mais.
José (Fogaça), e agora?

Se você se decidisse,
Se seu voto abrisse,
Se você se tocasse,
Imparcialidade ativa
É coisa que não existe.
Se você descansasse
Se você desistisse...
Mas você não desiste,
Mas que coisa triste!

Quer apoiar Serra,
O PDT não lhe deixa,
Talvez então Dilma,
Mas a direita se queixa,
E o PMDB?
Só aguarda a deixa...
Mas que coisa, José (Fogaça)
Você marcha, José!
José, para onde?

segunda-feira, 7 de junho de 2010


Músicas que marcam...
Creio que cada um de nós lembra com carinho de alguma música que marcou algum momento de nossa vida, e quando a ouvimos lembramos destes bons momentos. Duvido quem não se emocione ao ouvir alguma música que tenha feito sucesso durante sua infância... Particularmente, marcou-me muito a música “Quatro semanas de amor” de Luan e Vanessa. E também músicas da Xuxa, do Balão Mágico, músicas que aprendíamos na escola e na catequese.
A música acompanha o ser humano há milhares de anos. Talvez tenha surgido junto com o desenvolvimento da linguagem. Desempenha entre nós diversas funções. Pode ser uma declaração de amor, uma denúncia social, uma homenagem a alguém, um símbolo de um povo (hinos), uma oração. Aliás, diz um ditado que “quem canta reza duas vezes”.
Impossível dissociar as origens da música e a religião. As primeiras partituras, menos complexas que as atuais, foram criadas por um Papa chamado Gregório, e com elas foi desenvolvido o famoso canto gregoriano. Até a Idade Média, a música desempenhava quase que exclusivamente uma função litúrgica e sagrada. O canto era considerado a melhor forma de louvar a Deus. Os corais surgem com Lutero, a partir do século XV.
Após adquirir independência, a música alcança parcelas cada vez maiores da sociedade e populariza-se. Cantores populares surgem em todos os lugares, nenhuma cultura desenvolve-se sem a música como uma das suas principais características.
Sou da geração dos anos 80. Não havia CD, MP-3, MP-4... Apenas os discos de vinil e as fitas cassete. Nas rádios, faziam sucesso músicas dos Titãs, Raul Seixas, Engenheiros do Hawaii, Paralamas do Sucesso, Leandro e Leonardo, Xitãozinho e Xororó... Tenho vagas lembranças até de Amado Batista.
Músicas que tinham algum tipo de conteúdo, que mesmo não sendo infantis mexiam com o mundo da imaginação. Acho que a música mais maliciosa era a da galinha Marilu (Eu tinha uma galinha que se chamava Marilu, um dia fiquei com fome e papei a Marilu), da banda Ultraje a Rigor.
Já adolescente, acompanhei a fama dos Mamonas Assassinas, que mesmo com a malícia de suas músicas, ainda eram de uma pureza infantil.
Mas a música decaiu de vez com o funk... Certas letras chegam a ser difíceis de citar como exemplos, mas segue uma abaixo, pois geralmente crianças não lêem jornais:
“Abre as pernas, faz beicinho, vou morder o seu grelinho...
Vai Serginho, vai Serginho....
Abre as pernas, faz beicinho, vou morder o seu grelinho...
Vai Serginho, vai Serginho”
Bah, fala sério? Isso é música? Para quem? Será que estarei sendo preconceituoso se perguntar a que nível de pessoas essas músicas servem? Não tenho filhos, mas se tivesse não permitiria que este lixo chegasse aos seus ouvidos. E se tivesse o poder de fazer leis, proibiria que músicas como essas pudessem tocar nas rádios. Para alguns pode parecer conservadorismo. Para mim o nome é outro: educação! Ou valores.
Em menos de vinte anos, a decadência da música no Brasil foi impressionante. Tomara que possamos dizer “o pior já passou”. Duvido que possa piorar. Vemos claramente que o sucesso de uma música não está ligado necessariamente a sua qualidade, mas aos interesses das gravadoras.
E geralmente estes interesses são meramente financeiros e lucrativos. Mas aos pais que tenham como interesse os valores e a educação de seus filhos, peço que não permitam que a infância de seus filhos seja marcada por este tipo de música.

André Rech
Professor de Filosofia e Sociologia

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Comunicação


O quarto poder

Quem já ouviu falar no quarto poder? Desde as séries iniciais aprendemos que nossa sociedade, para melhor organizar-se, possui três poderes: executivo, legislativo e judiciário, nos três níveis de administração: municipal, estadual e federal. E que são as pessoas que compõe estes três poderes as encarregadas por criar, executar e fiscalizar as leis, além de punir quem não as cumpre.

Então qual seria o quarto poder?

Esta designação, muito utilizada por sociólogos, é atribuída a mídia, ou seja, os meios de comunicação de massa: televisão, rádios, jornais... Mas seria a mídia um poder? Tão ou mais poderoso que executivo, legislativo e judiciário?

Respeito quem discordar, mas estou plenamente convencido que sim. Afinal, é pela mídia que recebemos diariamente milhares de informações em forma de imagens e palavras escritas ou faladas. E é pela mídia que formamos a maioria, ou a quase totalidade de nossas opiniões, em relação aos mais variados assuntos.

A mídia pode construir ou destruir a imagem de um candidato ou administrador público, pois alcança mais pessoas em segundos que uma pessoa durante a vida inteira. Pode favorecer ou desfavorecer pessoas, idéias, movimentos, grupos, governantes, religiões... Pode levar milhões de pessoas às ruas para defender ou protestar contra um governo ou fato social. Exerce uma influência direta e poderosa sobre a opinião pública.

Em favelas ou vilas, podemos encontrar lares sem geladeira ou fogão, sem esgoto tratado ou água encanada... Mas nunca sem uma televisão ou pelo menos um rádio. Todos os dias, em diversas partes do dia, somos bombardeados com milhares de informações e opiniões...

Mas há uma questão de fundamental importância: a mídia mostra apenas fatos, apenas informa o que ocorreu ou está ocorrendo, sem incutir opiniões? Responda a partir de você: quando você narra um conflito entre duas pessoas e é amigo de uma delas, contará o conflito sem omitir ou salientar nada? Aliás, não responda... Apenas reflita!

Tenho dúvidas, muitas dúvidas, quando digo que tenho opinião própria. Questiono pessoas que assim o dizem. Afinal, só posso ter uma opinião própria se conhecer o fato por inteiro, se saber o que realmente está ocorrendo, quais as partes envolvidas e quais os interesses de todas as partes... E duvido que a mídia me forneça informações completas!

Daí a necessidade de irmos além dos noticiários televisivos, lermos muito e questionarmos mais ainda, procurarmos um aprofundamento sobre tudo o que chega até nós e sempre buscarmos em mais de uma fonte as informações sobre a sociedade em que vivemos.

Costumo dizer aos estudantes que uma pessoa que lê é radicalmente diferente de uma pessoa que não lê. Leia mais, e descobrirá que tenho razão!

André Rech ( F. 81714119 )

Professor de Filosofia e Sociologia

terça-feira, 18 de maio de 2010

Disney


Disney

Sou gibiófilo...
Sei que a palavra não existe, mas se existisse significaria “amante de gibis”, do grego “filos” = amizade, atração.
Desde que aprendi a ler, aprendi a gostar de revistas em quadrinhos, principalmente as da Disney.
Aliás, aprendi a gostar de ler lendo gibis.
Personagens como Tio Patinhas, Donald, Gastão, Margarida, Peninha, Pateta, sempre povoaram meu imaginário infantil.
Eu era uma criança irrequieta, agitada. Mas bastava colocar uma pilha de gibis em minha frente para que eu me aquietasse e ficasse em silêncio. Comprava gibis, pedia emprestado, trocava... Tinha uma verdadeira gula por eles. Uma atração inexplicável.
Mas se aprendi a gostar de ler, também aprendi muitas outras coisas com os gibis que só fui me dar conta mais tarde.
Aprendi que para ficar rico basta simplesmente poupar, como o Tio Patinhas. Poupar mesmo, radicalmente. Não gastar em absolutamente nada que seja supérfluo. Quem não é rico é porque não sabe poupar. Sentia-me culpado por não saber poupar, e encontrava aí a justificativa para não ser rico. Mas hoje percebo que quem poupa é porque é obrigado, é porque se não poupar não consegue pagar todas as contas. E todos os poupadores que conheço são pobres...
Aprendi que crianças são criadas por tios ou tias, nunca pelos pais. Donald cria os sobrinhos Huguinho, Zezinho e Luizinho. Mickey cria os sobrinhos Chiquinho e Francisquinho. Margarida cria as sobrinhas Lalá, Lelé e Lili. Zé Carioca tem os sobrinhos Zico e Zeca. Peninha cria o Biquinho. Pateta, o Gilberto. Até os Metralhas têm sobrinhos. Mais tarde descobri que Walt Disney era homossexual, não tinha família e era contra a instituição família. Então nunca a retratava em suas histórias. Ninguém casa, ninguém tem filhos.
Aprendi que ladrões roubam porque são maus. Os Metralhas, Mancha Negra, Professor Gavião... Todos eles roubam simplesmente porque é da natureza deles roubar. São bandidos porque gostam de ser. Mas hoje sei que o que faltou a bandidos foi justamente uma família estabilizada, educação em casa e na escola, condições para uma vida digna. E faltou justamente devido à concentração de renda nas mãos de pessoas como o Tio Patinhas...
Aprendi que crianças não têm religião, não rezam, não vão a nenhuma Igreja, não fazem catequese. Parece que o nome de Deus é proibido nos gibis da Disney. Mas hoje sei que crianças são muito religiosas e possuem uma fé mais pura e, às vezes, até maior que a dos adultos. E sei que a educação religiosa das crianças é de fundamental importância na formação de seu caráter e na construção do sentido da vida.
Hoje sei que nem revistas infantis estão livres de fortes ideologias, principalmente a capitalista. E acredito que, já que fazem parte do cotidiano de tantas crianças, estas revistas deveriam ser trabalhas em sala de aula de forma crítica e construtiva, a partir de questionamentos e comparações.
Não parei de ler gibis. Continuo lendo, é um excelente passatempo para mim quando o tempo permite. Mas aprendi que preciso desaprender muitas coisas que os gibis me ensinaram.

André Rech
Professor de Filosofia e Sociologia em Arroio do Sal e Passo de Torres/SC

domingo, 16 de maio de 2010













Ser educador


Sou educador, mais educador que professor. Apesar de sinônimos no dicionário, as palavras educador e professor possuem significados diferentes. Professor é aquele que professa, ou seja, fala, declara algo, em público. Aí combina com a palavra aluno, do latim “sem luz”, ignorante, sem conhecimento.

Já educador tem origem no grego “educere”, que significa “tirar algo de dentro”. Parte-se do princípio de que o estudante não é uma folha em branco na qual podemos escrever o que quisermos, mas que já possui conhecimentos e capacidade cognitiva e cabe ao educador ajuda-lo a desenvolver aquilo que ele já tem. Então, ao invés de aluno, prefiro educando. Ou estudante.

Não vejo meus educandos como uma folha em branco, e quando entro em uma sala de aula sei que nenhum deles caiu de pára-quedas do nada. São pessoas como eu, de carne, ossos e sentimentos. Cada um tem sua história de vida, seu caráter, sua personalidade, suas tendências. Trazem de casa a educação recebida dos pais, aliada à maneira de ser e agir que lhes é própria.

Não estão prontos (nenhum de nós está), precisam de orientação nos mais variados assuntos. Precisam de limites, pois vivem numa pequena comunidade, a turma, e a vida em comunidade, qualquer comunidade, precisa de regras e normas de convivência. Vivem ainda numa instituição, a escola, que também possui suas regras. E vivem ainda em uma sociedade, e a vida em sociedade exige uma infinidade de adaptações, de respeito, de conhecimento das leis que a regem.

A escola é principalmente um lugar de conhecimento, mas não só. É um lugar de pessoas, e pessoas falam, divergem, brincam, discutem, se desentendem, se magoam, se emocionam... Educadores e educandos não fogem à regra. Brinco com meus educandos, me desentendo com eles, me magôo, me emociono, divirjo, concordamos, rimos, debatemos. Mas cada um tem seu momento e forma de se expor. Existem regras que precisam ser seguidas, e o respeito é fundamental. Quando alguém transgride a regra, precisa ser punido. Pode ser uma advertência oral, escrita, ou até uma suspensão temporária das atividades da escola. Depende, é claro, da gravidade da transgressão. Na sociedade, também funciona desta forma.

Trabalho com duas disciplinas que exigem reflexão, muita reflexão: filosofia e sociologia. Disciplinas, aliás, que foram proibidas durante a ditadura militar, pois o governo não queria que as pessoas refletissem e questionassem. Queriam “alunos”, pessoas sem luz própria, que não fossem capazes de conceber suas próprias idéias. Educadores que trabalhassem de forma diferente eram taxados de subversivos e perseguidos pelo governo.

Hoje temos uma liberdade mais ampla, principalmente liberdade de expressão. Mas para termos ideias próprias, precisamos ser capazes de concebe-las. Elas não nascem do nada. Só concebe ideias próprias quem desenvolve sua capacidade de reflexão, seu senso crítico, quem questiona as informações que recebe, seja qual for a fonte. Caso contrário, apenas repetimos o que ouvimos, concordamos e fazemos de conta que esta é nossa opinião.

Lembro da história de uma mãe que estava com a filha na sombra de uma amoreira, com uma bacia cheia de amoras maduras e suculentas. Mas a filha teimava em colher amoras do pé, ainda verdes e difíceis de serem alcançadas. Coma as da bacia, pedia a mãe. Prefiro eu mesma colhe-las, retrucava a menina.

Quando crianças, somos cheios de questionamentos, de perguntas, de dúvidas. Queremos respostas, mas queremos busca-las, comprova-las. Mas na escola, os professores preferem dar respostas prontas, oferecer as amoras na bacia, sem mostrar de onde vieram e qual o processo necessário para que cheguem até nós.

Ser professor não é fácil, mas ser educador é um desafio, um grande desafio. Principalmente quando as informações chegam tão rápido, mas o conhecimento torna-se cada vez mais superficial e despido de senso crítico. Educar para a vida em sociedade é mais que ensinar a cantar o hino nacional, respeitar a bandeira e seguir as leis, como as antigas disciplinas de EMC (Educação, Moral é Cívica) e OSPB (Organização Social e Política do Brasil), que mostravam a sociedade como ela é sem questionar o que a levou a ser assim.

Precisamos entender que nada na organização social em que vivemos é fruto do acaso. Os problemas que a sociedade enfrenta, a má distribuição de renda que gera miséria e violência, possuem uma raiz, que pode ser transformada. Entender os porquês e tornar-se agente de transformação é um princípio básico da educação.

André Rech ( F. 51 81714119 )

Professor de Filosofia e Sociologia