Blog do Sôr André

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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Discorde de mim!



Discorde de mim!

Estranho este título? Mas não pode existir maior demonstração de sinceridade e autenticidade por parte de uma pessoa que uma discordância. Quando alguém discorda de mim e externa sua opinião, está revelando que não quer me enganar ou concordar comigo apenas para me agradar. Está sendo sincero, e digno de minha confiança.

Infelizmente a maioria das pessoas não sabe discernir ideias e pessoas, e quando contrariadas agem como crianças mimadas: ou concorda comigo ou não sou mais teu amigo (às vezes com direito a beicinho). Pessoas maduras sabem e compreendem que discordar das idéias de uma pessoa não é sinônimo de ser contra a pessoa.

Claro que existem maneiras de discordar, maneiras de expor ideias e pensamentos, maneiras até mesmo de criticar ideias opostas. Respeito é fundamental. Palavras agressivas ou debochadas apenas enfraquecem os argumentos, por melhores que sejam. Pessoas agressivas ou debochadas, metidas a donas da verdade, podem ter as melhores ideias e argumentos, mas os mesmos serão associados à antipatia da pessoa.

Então discorde de mim, mas devo acrescentar: respeitando-me. Pois assim, no debate benéfico e sadio, cresceremos juntos, um aprendendo com o outro.

As personalidades que mais marcaram a história da humanidade não diziam o que as pessoas queriam ouvir, até por que são poucos os que querem a verdade. A maioria prefere ser enganada, ouvir o que é agradável, mesmo que seja mentira. Jesus Cristo não chegou a afirmar que estava “se lixando pra opinião pública”, mas nunca se preocupou em agradar seus ouvintes. Na sociedade que observava o princípio do talião (olho por olho, dente por dente), pregou amor aos inimigos e perdão aos que faziam o mal. Quando todos queriam apedrejar a mulher adúltera, fez com que se colocassem no devido lugar, com apenas uma frase: “Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra”.

Abraham Lincoln, presidente mais lembrado da história americana, em plenos tempos de escravidão, disse: “Os que negam liberdade aos outros não merecem liberdade” e “Se a escravatura não é má, nada é má”. Numa sociedade adepta do puritanismo, disse que “pessoas sem vícios têm poucas virtudes” (vale lembrar que Hitler nunca fumou nem bebeu).

Os dois encontraram muita oposição. Foram difamados, perseguidos, criticados violentamente. O que houve com Jesus todos sabemos... Mas suas ideias permanecem vivas, assim como a contribuição que deram a todos nós. Einstein também afirmou que “grandes espíritos sempre enfrentaram violenta oposição de mentes medíocres”.

Ao contrário dos personagens citados, temos outros que não conhecem vaias, apenas aplausos. São especialistas em dizer o que as pessoas querem e gostam de ouvir, e fazem o maior sucesso entre aqueles que, certamente, Einstein referia-se como mentes medíocres.

Cito como exemplo Ratinho, o mestre da demagogia. Demagogia, de acordo com a wikipédia, é conduzir o povo a uma falsa situação. Em termos etimológicos provém do Grego, querendo dizer "a arte de conduzir o povo", dizer ou propor algo que não pode ser posto em prática, apenas com o intuito de obter um benefício ou compensação.

Ratinho critica prefeito, governador, presidente... E a plateia o aplaude com vibração. Como se ele, caso fosse prefeito ou presidente, poderia solucionar tudo num passe de mágica. Aliás, já foi deputado federal pelo PRN, partido do ex-presidente Collor... E ele mesmo reconhece: “fui um péssimo deputado”. Mas muitas mentes medíocres sonham em tê-lo como presidente do Brasil...

Tenho a convicção de que, justamente por tantos políticos quererem apenas agradar, e por tantos eleitores quererem apenas ser agradados, é que o Brasil virou um jogo de interesses individuais que se sobrepõem aos coletivos.

Felizmente ainda temos algumas vozes, que como João Batista, clamam no deserto... E discordam da maioria! Pena que não podem ocupar espaços em nossas câmeras de vereadores, de deputados, senado... Isso ainda depende do desenvolvimento da maturidade política de nossos eleitores. Até lá, sobrevivamos!

André Rech - Professor de Filosofia e Sociologia