Blog do Sôr André

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quarta-feira, 6 de abril de 2011

Mal Entendido

Mal Entendido

O que você diria a alguém que lhe dirigisse a palavra em latim e dissesse: “Adeamus ad montem fodere putas cum porribus nostrus”? Ou dissesse em espanhol: “La vien un tarado pelado com su saco en las manos corriendo atraz de la buseta”.

Riria? Tomaria como uma gozação? Indignaria-se com tamanha falta de respeito? Partiria para a agressão? Qualquer uma destas atitudes seria incorreta, até que você soubesse o significado destas palavras. Então poderia dizer que não é época de plantar batatas, ou que não trabalha na roça, como resposta à frase em latim, cuja tradução é: “Vamos à montanha plantar batatas com as nossas enxadas”. A tradução da frase em espanhol é: “Lá vem um tonto careca com seu paletó nas mãos correndo atrás do microônibus.”

Porém, nossa primeira reação não costuma ser a de pedir um esclarecimento ou procurar entender melhor o que as pessoas nos dizem. Costumamos partir logo para a agressão diante do primeiro mal entendido.

Quantas brigas, discussões, inimizades e até mesmo mortes poderiam ter sido evitadas se as pessoas procurassem o diálogo antes de tomar uma atitude? Já dizia um antigo provérbio chinês: “Não se deve içar as velas durante uma tempestade”. Os antigos barcos a vela, se estas fossem içadas durante a tempestade, provavelmente naufragariam.

Assim é em nossa vida: jamais devemos tomar decisões em momentos de raiva ou furor. Em cem por cento dos casos, iremos nos arrepender do que fizermos. Quando pensamos com calma, refletimos, conversamos, ficamos em condições de tomar a decisão mais correta. Agir com impulsividade é agir como os animais e abrir mão do que nos diferencia deles: a razão.

Há pessoas que se orgulham de falar tudo o que pensam, de falar as verdades na cara... Hum... Tenho uma opinião sobre essas pessoas que prefiro não externar aqui. Mas falar tudo o que pensa costuma ser sinônimo de falar sem pensar, ou ainda, falar bobagens. Como uma personagem de programas humorísticos, que após dizer vários impropérios, ainda completava: “Só abro a boca quando eu tenho certeza”. Pobre coitada!

E quando dizem que falam a verdade na cara, será que possuem noção do que seja a verdade? Ou será que concebem a verdade como suas opiniões e julgamentos? Costumo pedir a estas pessoas que falem suas verdades para quem quiser ouvi-las. Afinal, quem acha que está dizendo a verdade na cara, está demonstrando apenas a má educação que recebeu e a falta de valores básicos como o respeito e a ponderação, além, é claro, da falta de equilíbrio emocional.

Pessoas equilibradas e bem resolvidas não gritam, não se alteram nem agridem quando contrariadas e nem mesmo quando ofendidas. Também não deixam de “falar na cara” para depois “falarem pelas costas”. Simplesmente compreendem que nenhuma agressão é gratuita. Compreendem que agressões resultam de momentos de fraqueza emocional, de mal entendidos, ou mesmo de situações conflitantes que o agressor está vivenciando. E sabem que se alterar irá apenas leva-las ao mesmo nível do agressor...

Em situações de tensão, é sempre melhor contar até dez, controlar-se, manter a calma, retirar-se quando possível. E depois de alguma reflexão tomar uma atitude. Ao mesmo tempo, jamais ser passivo diante de situações de violência. Nenhum tipo de violência é normal nem deve ser tratado como normal. Pessoas que insistem em ser agressivas devem ser ajudadas, tratadas psicologicamente se necessário.

Mas reagir da mesma forma é apenas jogar lenha na fogueira e se deixar queimar!

André Rech

Professor de Filosofia e Sociologia